Acorda, sempre querendo mais. Dormir mais, sonhar mais. A paz da inconsciência. Levanta, arrastando seus sonhos ainda pulsantes para cética realidade. Escova os dentes, desejando que o tempo parasse. Mas que merda, pensava. Todos. Os. Dias. Durante o horário comercial, existe em duas realidades. Vive, respira e sente tudo que vive. Sonha, nos breves momentos de silêncio com seu outro seu. Está surfando, comendo, dormindo, morrendo. Qualquer coisa melhor e mais digna do que vive.
Naquele dia, no entanto, notou uma constante. Incomodou-se e partiu para o rompimento. Sentou-se no final daquela subida, saborearia um café. Duas colheres de açúcar e só.
Ao seu lado, um outro ser. Tão inconstante quanto a constância da sua vida. Escolheu parir a rotina, sentando-se logo a esquina, para um expresso. Três colheres de leite e só. Precisava esfriar a cabeça, que pulsava uma ressaca sem nome. Ontem sentia-se incrivel, desejando mais. Flutuar mais, sempre mais. A paz da inconsciência. Degustava o gosto amargo e quente, como se fosse herói. Mas que merda, pensava. Todos. Os. Dias. Durante o horário comercial, existia apenas na caixa postal. Está nevando, chovendo, cantando, morrendo. Qualquer tempestade vazia e nebulosa do que vive.
Naquele dia, no entanto, olharam-se apenas por uma eternidade e partiram deixando seus vazios meio mornos na mesa.
(Na vida) Todos os encontros são desencontros (Da vida).