terça-feira, 8 de abril de 2008

Um Sol

Passado-presente-futuro.
S-i-n-c-r-o-n-i-a P-l-e-n-a

Sintonia Plena

A vida é realmente bela.
Em um instante radiante.
Noutro, arrasada sou.

Não é fácil equilibrar
no pedaço de chão que insiste
em se esvair a cada respiração.

A turva água que refresca minh’alma
percorre por um pequeno riacho
distinto de qualquer possessão.

Separa tolices guardadas
Como chaves expostas
Aos prisioneiros da liberdade.

Ninguém ousa duvidar.
O que não pertenceu hoje
É teu e de ninguém mais.

O destino da vida ilustrado e
Colorido com nuvens iluminadas
de branco suave e inocente.

Ninguém ousa concordar.
Teu segredo avassalador
É meu e de ninguém mais.

Sincronia

No tempo de uma música, olho as estrelas.
Me permito encantar com seu brilho, seu mistério.
Deixo, no entardecer da noite, meus pensamentos dentro de uma caixinha de fósforo.
Não permito que luzes sejam acesas.
Me ilumino com o sereno da noite, que carrega calmaria em tempos de luz.
Sinto o vento acariciar meu rosto,
Suave como alecrim.
Observo homens brincando de reis.
Sem sentimento, lutam por causas que desconhecem
Quanto tempo faz que você não sorri?
No tempo de uma música, fecho meus olhos.
Dentro de mim, sinto a energia aquecer meu corpo
Me entrego as lembranças guardadas e esquecidas.
Deito, no silêncio da pedra, a sonhar com outros reis.
Serenidade em dia de tormenta.
Lama seca, nuvem branca desafinada
Suor em dia de chuva

Sentidos

Os dias chuvosos cessaram
Afaga com sua luz corações
Revela e renova sentidos
Afugenta interrogações frias
Caloroso volta sorrir
Adomecido em tempos chuvosos
Impiedosa verdade, inegavel virtude
Aroma de flores flutua em prosa.
... do lado de fora, os dias chuvosos cessaram. Do outro lado está apenas começando. Aqui dentro.

Todo dia


Acordo
Resmungo...
Volto a deitar.
Acordo
Desligo o despertador
Vou ao banheiro trocar de roupa.
Saio de casa,
Caminho
Abraço três árvores.
Pego um ônibus
Ora em pé, ora sentada.
Desço no ponto
Pego o segundo ônibus
Ora em pé, ora sentada
Desço noutro ponto.
Chego no trabalho
Ligo o computador
Desligo no fim do dia.
Ando até a faculdade
Converso, dou risada, fico séria.
Termina a aula, volto para casa.
Chego em casa
Oi mãe, boa noite mãe
Tomo banho, preparo o despertador, durmo.
Acordo...
Todo dia, dia todo
todo dia, dia todo
todo dia, dia todo

O momento

Enquanto olho pelo vidro da janela que está fechada,
Tento observar o que acontece lá fora
Embaixo da chuva, em cima das pedras.
Enquanto o vento sopra em minha face
Reconheço o tempo deixado para trás
O desejo que escondi e o tempo que não passou.
Enquanto a água da chuva corre, carregando
a folha caída pelas ruas entorpecidas de silêncio
Seguro minhas mãos. Sorriso raso, cor de uva.

O anjo e a menina

Um anjo parou na janela. Sorria com ternura,
Observa uma garota dançando e cantando contente.
Ela imagina fadas e flores ao seu redor.
Momento sincero e mágico. Não havia pudores em sua mente
tão pouco se achava ridícula. Sentia-se tão leve que poderia flutuar.
O telefone toca.
O anjo, abruptamente extingue seu sorriso e se aproxima da menina
que tristonha fecha a janela, envergonhada. Não havia sinceridade em suas desculpas.
Ela desejava sonhar. Queria outra realidade que não aquela, tão cética
ao desligar o telefone, alguém abria a porta e a menina serena, se altera.
Grita e xinga. Diz tudo que sente ao contrário.
Raivosa e cruel em suas palavras, faz o anjo se afastar, sem escolhas.
Cria-se uma barreira impedindo sua aproximação. Estavam distantes.
Quando a porta se fecha, lentamente ela olha para janela, o mundo lá fora.
Mal sabia que fixava seu olhar no anjo com olhos humidos de lagrimas arrependidas.

Aquarela Insana

Não foi com certeza que dava meus passos,
Com desconfiança e desespero apenas caminhava...
Sabia que onde estava não poderia ficar.
Pratos longos, copos escuros tudo certo
Tão errado, onde estarão minhas luvas de algodão?

Olhares amendoados por toda cidade,
O vai-e-vem de pessoas sem certeza do amanhã,
Cantam e dançam para não enlouquecer,
Procuram suas luvas de algodão.

Ah! Que saudades da primavera, do tempo
Onde tudo era certo, quando até mesmo
A lua, essa inconstante, não tinha relogio, pois
Tinha certeza de suas luvas de algodão.

Em meio a retas e cálculos, em torno de
Flores, em meio ao calor, em todos os lugares
Naquele lugar os olhos falam quando
A boca se cala, achará suas luvas de algodão?

Do branco do papel à aquarela da vida,
Tudo é possível quebrando as regras.
Liberdade chora por não ser mais livre.
Em casa, um lustre, uma vida.

Cada luva uma proposta, um sentimento
Vingança! Para que? Se você sabe que amanhã
será outro. Mesmo sem certeza caminhe, mesmo
sem rumo, mesmo sem as luvas de algodão.

Me ame, me odeie apenas não ignore
Minha aquarela insana.
Sente-se no divã da vida e mostre seu
Verdadeiro rosto, mesmo que sem verdade.

Abismo

Permiti que conhecesse meu interior por um momento, numa tarde de outuno. Ainda mansa, pequenina. Soava despretencioso. Acreditei que assim seria. Eu o controlaria.

Hoje acordei sentindo um vazio enorme dentro de mim. Teu silêncio e calmaria devoraram todos os sentidos que conhecia.
L...e...n...t...a...m...e...n...t...e... apagou a luz, trancou portas dos quadros que amei, selou segredos, escondeu alergias. Do lado de fora tudo estava escuro, pálido na penumbra da noite que virou dia. Esqueci sonhos, esqueci sonhos...Caíram dentro do abismo que se formou dentro de mim.

Retrovisando

Ops... perdi a inspiração na esquina que passou.
Assim mesmo de repente, foi embora.

Deixou-me seguir na estrada de terra incerta
Sozinha naquele horizonte a se descobrir
Restou o Retrovisor, este que insiste em
mostrar o que passou, esvaiu.

Confesso muitas vezes passar horas olhando
Em busca do que não me lembro mais.
Tento encontrar desesperadamente uma pista
breve e sutil de quem sou, quem fui, quem serei.

O retrovisor imovel respira sem ambições.
Carrega dúvidas a pouco esperançosas
Refletindo tudo aquilo que não desejo ver
do vazio de minhas atitudes secas.

Retrovisor não esclarece. Não são respostas
que encontro quando observo sua superfície
lisa e fria. Permanecem as dúvidas, questões
vivas dentro de mim refletidas do passado.

De maneira distorcida é possível reconhecer
minhas escolhas, escolas, escoltas, escombros.
O retrovisor sobrevive de passado, me ensina
viver agora com as lições aprendidas ontem

Sobrepõe experiências mal sucedidas
Desafia sonhos carregados na mochila.
Me acompanha na imensidão a se descobrir
Ansiosa a se refletir dentro de meu retrovisor.

Texto inspirado na canção "Amem" d'O Teatro Mágico e do conto "Retrovisor" de Maíra Viana