Penélope sorriu sem felicidade. Observava o horizonte, deliciando-se com as possibilidades do sentir. Crescia uma explosão de sentimentos que mergulhava nas profundezas dos seus assuntos inacabados. Todos os seus quereres, naquela fração de lucidez, devoravam a inércia de suas não-atitudes. Marcelo não respondeu sua pergunta. Seu silêncio era expressivo e ele continuava ali, apenas por curiosidade.
Durante algum tempo continuaram em silêncio, observando as probabilidades interiores. Penélope abraçou suas pernas, encostou sua cabeça em seus joelhos e mordeu os lábios. Marcelo quis abraçá-la, mas sua timidez não permitiu. Então, incomodado com sua própria falta de ser, mudou de posição. Seria uma linda fotografia aos transeuntes, mas não havia ninguém ali.
- Que vento bom...
E era mesmo. Ventava suave, quase como uma brisa. A verdade é que ventava sempre. O que sentiam não era tristeza e tão pouco amor. Era outra coisa que transforma silêncio em incomodo. E, como deveria ser, num impulso, Marcelo foi embora. Penélope continuou na imensidão de seus interiores, controlando seus quereres e sorrindo sem felicidade. Mudou de posição e agora estava em lótus. Vinda de longe, uma bela melodia chegava aos seus ouvidos.
Sing me to sleep...