Ao longe era possível ouvir o som do piano. Um som triste. Quase um lamento. Ninguém conhecia o pianista. Isso não importava. Na verdade, nada nunca importa. E da mesma maneira que chegaram os tristes acordes do piano, ouvia-se agora, a melodia de um metal soproso. O som de duas almas se encontrando. O triste ritmo trazia histórias nos rostos daqueles que observava na avenida. E trouxe também, a história do Sid. Meu pai.
Ele acordava sozinho, todos os dias. Levantava com bom humor e sem nenhum objetivo. Com dificuldade, apoiava suas fracas mãos e vagarosamente rolava para o final da cama. Apoiava um pé no chão e tremendo, o colocava dentro do sapato de borracha, presente sugerido de sua filha. Tateava, com uma tranquilidade que só os idosos conheciam, o colchão a procura de seus óculos. Não conseguia ler sem eles. Na verdade, mal conseguia ler com eles. Aos poucos, levantava-se. Nessas manhãs todas que acordava sozinho, possuia uma felicidade incomum, mesmo que não houvesse alguém para dizer bom dia. São compassos dos homens de 42.
A verdade é que não consigo contar essa história ainda. E nem quero contá-la tão cedo. Um dia, eu sei, terei que contar. Se não eu, ninguém falará. E eu jamais permitiria que essa história não fosse contada. Ainda é cedo. E eu fico grata, por ser cedo.
Os rostos daqueles que caminhavam na avenida, nunca olhavam pra mim. E eu gostava disso. Era como se fosse atemporal. Até meu ritmo ficava mais lento, para acompanhar os leves acordes que narravam minha trajetória. Eu agora, fazia parte de uma poesia e ninguém mais sabia.
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ResponderExcluirFiz minha primeira postagem, depois do falecimento da minha querida Belinha, a Iza Freitas. É e será muito difícil acostumar a visitar o blog, sem receber o carinho e as palavras dela.
ResponderExcluirSei que ela se manifesta de outra maneira e que as lembranças dela jamais morrerão em mim. Gostaria de escrever um monte de coisas para ela, mas preciso amadurecer algumas coisas em mim. Esse texto veio por causa dessa canção: http://www.youtube.com/watch?v=PnSesCfXfYI
minhas palavras não são bonitas, comparada a música, mas ela conseguiu me inspirar ao ponto de voltar a escrever. E isso, é maravilhoso.
Esse blog é assim, não tem data para ser atualizado. Os textos surgem dentro de mim e as vezes, consigo publicá-los. Ele jamais estará abandonado, mas as vezes (muitas vezes) meus sentimentos não conseguem ser decifrados em palavras e é preciso ouvir, observar e analisar.
Há muito mais de mim aqui, do que em qualquer outro lugar.
Obrigada por visitar esse espaço.
Bruna Mata Cavassani.