domingo, 20 de junho de 2010
As lágrimas que não são minhas
Insistem em cair nas curvas rosadas da face. Enxugo-as para que ninguém as veja. Em toda esfera azul há olhos babando. Curvando-se a sentimentos inexplicáveis. Sentimentos mudos e selvagens, quase burros que saltitam a atmosfera humana. Eles não se calam. Eles nunca ficam satisfeitos. O ritmo continua exatamente igual. Como fora desde sempre. Um suave tilintar interno recorda-me de sorrisos que nunca lembrei. Eram como serpentinas em zero absoluto. Eu me lembro daquilo que nunca esqueci. E quase como a pausa do tempo, as salgadas escorrem ondulantes em eterno descompasso com o agora. Pudera. Fosse o contrário e o mundo pararia. O ventre descansa nas gélidas cinzas da janela, a procura de um amigo. E se como soubesse, o vento beija-me violentamente, qual cereja lambuza-se em calda doce. Como se enlouquecesse.
domingo, 6 de junho de 2010
Território
Estava ali, no marrom sujo de uma mesa fria, nú. Tão límpido quanto a neve, tão fresco quanto a primeira gota de orvalho da manhã. Ansiava com prontidão receber o líquido rubro do mel que o coloriria. As farpas dançavam, como verdadeiras manhãs cinzas olivas em busca de respingos recusados pela nudez. Longe, nas madeiras limpas e brilhantes repousavam olhos curiosos e excitados. Desejavam a valsa projetada por seus outros mesmos pés. Silêncio. O maestro aproxima-se. Deliberadamente esfrega os pêlos no néctar negro e aguado, em cima da madeireira fina e pragmática. Embebido seus desejos, aproxima-se em cima do desavergonhado.
Treme....
um pingo,
dois.
derrama-se.
Amanhece
O dia parece tão mais leve quando sopra em mim.
Delicadamente despeço das minhas vestimentas,
e passo a sentí-lo aqui dentro.
Sabe que tento e tento escrever versos, músicas
e trechos para expressar o quanto há de dele em
mim. O quanto me transborda.
Inspira-me tanto que dói não despejar todo esse
turbilhão que sua presença carrega. É uma certa
inquietação natural. Do amor.
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