Observo a noite quente e abafada. O asfalto e suas pressas tornam a vista sufocante. Na cidade não há horizontes para orientar meus sonhos e luzes artificiais escondem as estrelas da via láctea. É tudo calor e cinza. A janela está escancarada, mas não há vento. A única visita é dos pernilongos e mosquitos, que rasgam e sugam minha essência. Não sou ninguém aqui. Nem quero ser. O tempo passa e agora é madrugada. Junto com o tempo, meus pensamentos vão escurecendo. E ouço as dores de minh'alma através dos conselhos do silêncio. É hora de dormir, mas a cama está bagunçada e desconfortável. Nem banhos resolvem o suor da pele. São as nostálgicas madrugadas de verão. Dessas que quase ninguém diz. Na cama busco o frio do lençol, enquanto deixo os pés descobertos. Mudo de posição. Uma. Duas. Três vezes. Então, um maldito mosquito canta em meus ouvidos e preciso levantar para matá-lo. O ódio alimenta minha sede e não o acho. Viro o copo e água gelada descendo pela garganta refresca meu corpo. Volto a deitar. Mudo de localização Uma. Duas. Três vezes. Agora a vontade é de ir ao banheiro. Saco. Aproveito e lavo o rosto. Gosto de sentir a água cair no meu rosto e desejo poder mergulhar nessa pia. Ao deitar, respiro fundo. Deixo a janela e as cortinas abertas. Não há vento e as estrelas estão ofuscadas pela luz artificial da cidade. Mas eu sei que elas estão lá. E sorrio. Deito de costas, toda torta. O lençol perdeu-se entre razões e soluções. É quando então, durmo.
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