terça-feira, 26 de outubro de 2010

O violão e azaléia

Tons verdes, cinzas e vermelhos noturnos pincelavam o horizonte. Feito jabuticaba, o brilho das esferas continua límpido como lua cheia. É dia de sol, mas dessa historia, a brisa é apenas observadora.


Um violão de cordas sonhadoras apaixonou-se pelo som doce de uma azaléia-cor-maçã. Voando sentimentos, teceu notas inúmeras em partituras venha-si-mi-sol. Tão suas e tão íntimas que as vezes confundiam-se com um singelo chorar de moda. Dias passaram, meses e anos. Em todas as oportunidades de estarem próximos, deixou que insegurança fosse sorriso em seu rosto. Tolo violão, as cordas gastas tornam ainda mais interessante sua melodia. Pena que ele não saiba. E nem ela. Durante as noites, faz serenata sonhando todos os mundos perfeitos. E a lua observa em silêncio o adormecer de suas cordas. 


Azaléia-cor-maçã está em outra sintonia. Dispersa no desconhecido paralelo vosso. Ninguém sabe decifrá-la e seu mistério a torna ainda mais interessante. Quando, no sexto refrão da décima melodia, decidiu presenteá-la com sua mais honesta canção. Um sorriso e só. Esperou um beijo e um nada também. Lá, em mi maior, com suas cordas desprendidas flutuou e Azáleia-cor-maçã não dançou. Ninguém a decifrou. E a melodia do violão voador continuou intensificado, como aquarela em dia de banho de chuva. Descoloriu, borrou e se libertou.


Sentado na última estrofe, com cadernos tortos na mão, está o violão libertado. Algumas cordas quebradas, levemente opaco e absorto em música. O coração bate dois tempos acelerado, participando de uma transe coletiva. Amarelo, cinza e preto do céu nebuloso carrega sorrisos amigos, esquecidos na suavidade da chuva interior. E os assovios de feições conhecidas aguardam a melodia do violão aprendiz retornar. Repleto de amor, de si e de vôos.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Alguns dos meus...

Serão confidenciados para alguém. Pequenos tesouros que num passar de segundo tornar-se-ão, tolices. As lembranças que guardo em mim, farão meu coração contorcer de saudades daqui alguns anos. E como diz na música, aprenderei com meus passos. Tormentos coletivos da vida.
Quantas vezes não desejei congelar o relógio da vida, torná-lo mais lento, paralisá-lo. Olho para os meus e descubro um furto seu. Não sorrio. Ainda. É porque há um pouco de você por aqui. Chegou em uma tarde ordinária, patética e cinza. É meu sol, minha lua e minha brisa. É seu.

Honestamente eu imagino que você saiba. E agora, você também sabe que eu sei. E estamos bem. Gosto da sua maneira de lidar com os meus. Sei que eles chegaram pelos ventos instáveis das chuvas de verão. Cheias de intenções, mas passageiras. Não as culpo. E nem poderia, elas fazem parte da natureza. É porque há um pouco de mim, em você. E tudo bem. Eu sei também que aquilo que você sabe vem dos seus, mais do que dos deles. Somos iguais. Temos um pouco dos outros em nós. Queria que você tivesse os seus respeitados, como os meus são, por você. Eu gosto do jeito que você compartilha os seus. Eu simplesmente gosto de você.

Esses são meus pequenos, um futuro passado.