terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por do sol

- O que é? O que é?! Diga!
- Não é nada. Saco.
- Vamos. Existe alguma coisa.
- Existe... (olhar distante)
- Então, fale. 
(Silêncio)
- Eu não me lembro de ter desligado o fogo.
- Desligou, eu vi antes de sair.
- Ah.
- Antes de sair, ao beber água, vi.
- O quê?
- O fogo.
- Eu queria ter visto.
- Você sempre quer.
- (Ri) Melhor do que nada.
- Talvez seja.
- Talvez.
- Você não bebeu água hoje.
- Dois copos.
- Quando?
- Antes de sair.
- Eu também bebi.
- O quê?
- Dois copos.
(O telefone toca)
- É hora.
- Eu sei.
- Então...
- Então...
- Está calor.
- Não é verdade.
- Não, não é mesmo.
- Está quente. Apenas quente.
- Então, o que é?
- Tudo, na verdade. E nada. Eu não quero falar.
- Eu sei.
- Gosto de sentir o gelo derretendo.
- Prefiro morder.
- Você sempre prefere.
- Respirar vapor.
- Nos hospitais?
- Em um banho de inverno.
- Que cheiro bom.
- É, creio que sim.
- Posso encostar, aqui?
- Pode.

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