quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Todas as coincidências da vida

Acorda, sempre querendo mais. Dormir mais, sonhar mais. A paz da inconsciência. Levanta, arrastando seus sonhos ainda pulsantes para cética realidade. Escova os dentes, desejando que o tempo parasse. Mas que merda, pensava. Todos. Os. Dias. Durante o horário comercial, existe em duas realidades. Vive, respira e sente tudo que vive. Sonha, nos breves momentos de silêncio com seu outro seu. Está surfando, comendo, dormindo, morrendo. Qualquer coisa melhor e mais digna do que vive.

Naquele dia, no entanto, notou uma constante. Incomodou-se e partiu para o rompimento. Sentou-se no final daquela subida, saborearia um café. Duas colheres de açúcar e só.

Ao seu lado, um outro ser. Tão inconstante quanto a constância da sua vida. Escolheu parir a rotina, sentando-se logo a esquina, para um expresso. Três colheres de leite e só. Precisava esfriar a cabeça, que pulsava uma ressaca sem nome. Ontem sentia-se incrivel, desejando mais. Flutuar mais, sempre mais. A paz da inconsciência. Degustava o gosto amargo e quente, como se fosse herói. Mas que merda, pensava. Todos. Os. Dias. Durante o horário comercial, existia apenas na caixa postal. Está nevando, chovendo, cantando, morrendo. Qualquer tempestade vazia e nebulosa do que vive.

Naquele dia, no entanto, olharam-se apenas por uma eternidade e partiram deixando seus vazios meio mornos na mesa.

(Na vida) Todos os encontros são desencontros (Da vida).

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por do sol

- O que é? O que é?! Diga!
- Não é nada. Saco.
- Vamos. Existe alguma coisa.
- Existe... (olhar distante)
- Então, fale. 
(Silêncio)
- Eu não me lembro de ter desligado o fogo.
- Desligou, eu vi antes de sair.
- Ah.
- Antes de sair, ao beber água, vi.
- O quê?
- O fogo.
- Eu queria ter visto.
- Você sempre quer.
- (Ri) Melhor do que nada.
- Talvez seja.
- Talvez.
- Você não bebeu água hoje.
- Dois copos.
- Quando?
- Antes de sair.
- Eu também bebi.
- O quê?
- Dois copos.
(O telefone toca)
- É hora.
- Eu sei.
- Então...
- Então...
- Está calor.
- Não é verdade.
- Não, não é mesmo.
- Está quente. Apenas quente.
- Então, o que é?
- Tudo, na verdade. E nada. Eu não quero falar.
- Eu sei.
- Gosto de sentir o gelo derretendo.
- Prefiro morder.
- Você sempre prefere.
- Respirar vapor.
- Nos hospitais?
- Em um banho de inverno.
- Que cheiro bom.
- É, creio que sim.
- Posso encostar, aqui?
- Pode.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O violão e azaléia

Tons verdes, cinzas e vermelhos noturnos pincelavam o horizonte. Feito jabuticaba, o brilho das esferas continua límpido como lua cheia. É dia de sol, mas dessa historia, a brisa é apenas observadora.


Um violão de cordas sonhadoras apaixonou-se pelo som doce de uma azaléia-cor-maçã. Voando sentimentos, teceu notas inúmeras em partituras venha-si-mi-sol. Tão suas e tão íntimas que as vezes confundiam-se com um singelo chorar de moda. Dias passaram, meses e anos. Em todas as oportunidades de estarem próximos, deixou que insegurança fosse sorriso em seu rosto. Tolo violão, as cordas gastas tornam ainda mais interessante sua melodia. Pena que ele não saiba. E nem ela. Durante as noites, faz serenata sonhando todos os mundos perfeitos. E a lua observa em silêncio o adormecer de suas cordas. 


Azaléia-cor-maçã está em outra sintonia. Dispersa no desconhecido paralelo vosso. Ninguém sabe decifrá-la e seu mistério a torna ainda mais interessante. Quando, no sexto refrão da décima melodia, decidiu presenteá-la com sua mais honesta canção. Um sorriso e só. Esperou um beijo e um nada também. Lá, em mi maior, com suas cordas desprendidas flutuou e Azáleia-cor-maçã não dançou. Ninguém a decifrou. E a melodia do violão voador continuou intensificado, como aquarela em dia de banho de chuva. Descoloriu, borrou e se libertou.


Sentado na última estrofe, com cadernos tortos na mão, está o violão libertado. Algumas cordas quebradas, levemente opaco e absorto em música. O coração bate dois tempos acelerado, participando de uma transe coletiva. Amarelo, cinza e preto do céu nebuloso carrega sorrisos amigos, esquecidos na suavidade da chuva interior. E os assovios de feições conhecidas aguardam a melodia do violão aprendiz retornar. Repleto de amor, de si e de vôos.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Alguns dos meus...

Serão confidenciados para alguém. Pequenos tesouros que num passar de segundo tornar-se-ão, tolices. As lembranças que guardo em mim, farão meu coração contorcer de saudades daqui alguns anos. E como diz na música, aprenderei com meus passos. Tormentos coletivos da vida.
Quantas vezes não desejei congelar o relógio da vida, torná-lo mais lento, paralisá-lo. Olho para os meus e descubro um furto seu. Não sorrio. Ainda. É porque há um pouco de você por aqui. Chegou em uma tarde ordinária, patética e cinza. É meu sol, minha lua e minha brisa. É seu.

Honestamente eu imagino que você saiba. E agora, você também sabe que eu sei. E estamos bem. Gosto da sua maneira de lidar com os meus. Sei que eles chegaram pelos ventos instáveis das chuvas de verão. Cheias de intenções, mas passageiras. Não as culpo. E nem poderia, elas fazem parte da natureza. É porque há um pouco de mim, em você. E tudo bem. Eu sei também que aquilo que você sabe vem dos seus, mais do que dos deles. Somos iguais. Temos um pouco dos outros em nós. Queria que você tivesse os seus respeitados, como os meus são, por você. Eu gosto do jeito que você compartilha os seus. Eu simplesmente gosto de você.

Esses são meus pequenos, um futuro passado.

domingo, 12 de setembro de 2010

Era primavera no final de tarde

Sentei no banco de madeira que ficava no meio do gramado. Queria descansar de todas as dores que algum dia senti. Deixei que o tempo passasse. O sol caminhava em partida quando tirei minha sapatilha:

- É como se elas já não me servissem mais.

Levantei os olhos soltando o peso da cabeça. Assim fiquei por outro longo período. Queria descobrir minha respiração sem perceber seu ritmo ou intensidade. Só queria sentir o tempo passar:

- É como se eu buscasse o céu.

Sorri para uma criança que pulava descalça, livre em seu vestido branco. Experimentei toda felicidade do mundo quando ela sorriu de volta para mim. É como se pudesse olhar para o espelho do passado, pensei.

domingo, 29 de agosto de 2010

Era ela

Um lugar onde o céu encontra o infinito. Areias brancas, recheadas de passos cor de borboleta. No cair da tarde o horizonte de paisagens nunca vistas. Terreno de ninguém.

- Quando vi, soube que podia respirar o ar do mundo todo. Senti o tempo parar. Pensei em tudo que já vivi, mas não nunca havia conseguido encontrar. A paz dentro e fora de mim. Por alguns segundos respirei fundo, tentando preencher meus medos pela atmosfera deste lugar. Pisei no chão tão profundamente que parecia espancar o solo com a raíz de minh'alma. Senti o vento me beijar.

Então desistiu, contorcendo-se harmoniosamente. Primeiro o tronco tomou a frente, seus braços e cabeça penduraram. O quadril deslizou para lateral enquanto seus joelhos cediam ao peso. Sentou-se no chão, permitindo que seu tronco tocasse o solo gélido e aquático. Esticou as pernas e respirou.

Agora fazia parte do infinito.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

CRÔNICAS DO PASSADO E PRESENTE - diários de um professor

Por Fábio de Amorim (poeta, contista, jornalista e professor de português)

O professor levanta cedo, sai de casa com o café da manhã sendo digerido rapidamente. Caminha dez minutos a pé até um ponto de ônibus. Espera cinco minutos apenas, afinal, um país está saindo de casa naquela hora. O professor consegue entrar no ônibus.
Agradece numa breve oração o fato de ser bem magro e poder caber, com pouco desconforto, entre duas senhoras obesas, o ferro do banco do ônibus e as alças de apoio, que lhe batiam no rosto. Todo apoio é necessário para aquele momento em que o motorista resolve frear bruscamente e você cai.

Você e todas as outras "peças" de dominó chamadas de pessoas. A viagem poderia ser mais agradável se o ano todo não chovesse, não fizesse frio, não fizesse calor de deserto. Porque em uma qualquer dessas situações, as janelas são fechadas (respire-se num ambiente desses!), ou são abertas, mas aí são fechadas de novo porque chove.
Mas faz calor, então ficamos de janelas fechadas, no calor, porque está chovendo, e a água entra no ônibus porque nenhum gênio da arquitetura automotiva pensou num jeito de evitar que se precise fechar janelas quando chove. Será que é tão difícil inventar um guarda-chuva de ônibus? O professor, vinte ou trinta minutos, depois chega a uma estação de metrô.

Desce do ônibus, entra na estação, pega o metrô. Faz três baldeações e em trinta e dois minutos chega ao seu destino. Ou melhor, quase. Caminha mais dez minutos no meio do barulho de sempre, dos mendigos de sempre, das crianças de rua de sempre, atravessa uma avenida e finalmente chega a escola onda dará suas aulas.

Como sempre, chegou na hora certa. Hora de cumprimentar os colegas, tomar um café mal feito, pegar giz, vestir avental e subir para a sala. Missão daquele dia: convencer 40 alunos a ler e a ter prazer lendo Machado de Assis. Antes de explicar as virtudes do "Conto de Escola", de Machado de Assis, um aluno já levanta a mão e pergunta: - O que vai ter na merenda hoje, professor?

Uma aluna aproveita a deixa e pergunta se pode ir ao banheiro. Outros três querem ir também. O professor já havia perdido dez minutos da aula anotando coisas no diário de classe e fazendo a chamada dos alunos. Perdeu mais cinco com as perguntas. Agora faltam vinte e cinco para o fim da aula. O professor suspira. O dia está só no começo.

_

Mais dele em: http://fabioamorim.zip.net/

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Acorde

Há tempos quero despejar consoantes ainda que fossem na contramão da gravidade. Meus sentimentos flutuam rumo ao céu o tempo todo. E a solidão é cada vez mais sofrida, mais intima de mim.

Não que seja inédito, pois o passado arrisca-se em meus braços insistentemente, mas a mudança as vezes impulsiona loucuras e incoerências. Não fazemos ideia de quem somos, o que fomos e o que faremos com o tudo que nos cerca.

Está tudo fora de tom. O que é certo e o que é acertar? Descobrir quem está com você é tão insignificante, é mais compreensível entender com quem você está. Quem nunca desejou fugir? Quem nunca foi excessivamente massacrado por sentimentos livres de ser, estar e acontecer?

O que somos senão holografia de nós...

Queria ser mais. Queria ser eu, queria ser você e todos que nos observam. E aqueles que não nos veem também. Queria sê-los e bebê-los. Ser o tempo, as nuvens, o céu e o vento. Queria ser o beijo que ele recebeu, o afago, o carinho e o tesão.

Amem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O prazer dilacerador de ser e estar

Os ventos da manhã brindavam um ótimo dia. A temperatura era fria, no ponto ideal. Refrescante. Ouvia-se pela porta da sacada uivos das árvores selvagens. Os pés tocam o aspero, a caminho do chuveiro. Despiu-se em pensamento e permitiu que a água beijasse toda a sua vestimenta. Como louca, ria. Não o era, estava em sintonia. Enquanto as doces gotas percorriam seu corpo, respirava fundo. Lentamente. Uma vez. Duas vezes. Três.

(...)

A madrugava sussurava maravilhosos segredos. A temperatura continuava fria, no ponto etílico. Escutava-se pelas ruas sujas desejos sorrateiros. Os pés caminhavam sustentados pelo tic-tac do salto. Todas as noites, o mesmo lugar. Despiu-se na entrada, dos seus pudores permitindo-se. E como bailarina, dançava. Não era solitária estava plena. Enquanto o salgado suor percorria seu corpo respirava frenéticamente. Em dupla. Uma vez. Duas vezes. Três.

domingo, 20 de junho de 2010

As lágrimas que não são minhas

Insistem em cair nas curvas rosadas da face. Enxugo-as para que ninguém as veja. Em toda esfera azul há olhos babando. Curvando-se a sentimentos inexplicáveis. Sentimentos mudos e selvagens, quase burros que saltitam a atmosfera humana. Eles não se calam. Eles nunca ficam satisfeitos. O ritmo continua exatamente igual. Como fora desde sempre. Um suave tilintar interno recorda-me de sorrisos que nunca lembrei. Eram como serpentinas em zero absoluto. Eu me lembro daquilo que nunca esqueci. E quase como a pausa do tempo, as salgadas escorrem ondulantes em eterno descompasso com o agora. Pudera. Fosse o contrário e o mundo pararia. O ventre descansa nas gélidas cinzas da janela, a procura de um amigo. E se como soubesse, o vento beija-me violentamente, qual cereja lambuza-se em calda doce. Como se enlouquecesse.

domingo, 6 de junho de 2010

Território

Estava ali, no marrom sujo de uma mesa fria, nú. Tão límpido quanto a neve, tão fresco quanto a primeira gota de orvalho da manhã. Ansiava com prontidão receber o líquido rubro do mel que o coloriria. As farpas dançavam, como verdadeiras manhãs cinzas olivas em busca de respingos recusados pela nudez. Longe, nas madeiras limpas e brilhantes repousavam olhos curiosos e excitados. Desejavam a valsa projetada por seus outros mesmos pés. Silêncio. O maestro aproxima-se. Deliberadamente esfrega os pêlos no néctar negro e aguado, em cima da madeireira fina e pragmática. Embebido seus desejos, aproxima-se em cima do desavergonhado.

Treme....

um pingo,
dois.

derrama-se.

Amanhece

O dia parece tão mais leve quando sopra em mim.
Delicadamente despeço das minhas vestimentas,
e passo a sentí-lo aqui dentro.

Sabe que tento e tento escrever versos, músicas
e trechos para expressar o quanto há de dele em
mim. O quanto me transborda.

Inspira-me tanto que dói não despejar todo esse
turbilhão que sua presença carrega. É uma certa
inquietação natural. Do amor.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amorta

Floresce, mas não é primavera. De outros tempos te conheço, mas juro que nunca te reconheci. Dissolve um orvalho puro, tão desajeitado que mal consegue escapar aos mantos da erva. Rejuvenesce, desaprende a alegoria da vida. Toma para ti o tempo, as decisões. Crê em tudo aquilo que passa por dentro, descolorindo o humano. Despudorado, teu sangue és. Canta cantigas vil, tal qual serenata capaz não é. Absorta nas correntezas mortas, exala temperos que amargam. Sobrenome azedume, é assim que te chamam. Doce balançar dos lenços capazes de reconstruir o universo de Lúcifer.

Da porta, não mais passais. És como um sonho ruim. Brando, passado. Pesou.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Outro dia, no Starbucks da Paulista...

... estão sentados à minha diagonal. Espiono entre as brechas de seus corpos o olhar dela, menina ansiosa. Estão apaixonados. De costas, só consigo observar os movimentos largos e escandalosos dele. Os pés e as mãos já não se controlam. Como vocês, eu espero o romance acontecer. Lentamente ela acaricia suas próprias mãos, desejando que ele as tocasse. Os olhares confessam sorrisos nervosos. As cabeças tendem para os lados e então... uma pausa. Nasce o amor.

_

... segurando um copo, despreocupadamente. Até parece que somos velhos conhecidos. Pelo seu olhar não consigo mensurar o tamanho de sua solidão. Ao término do café, coloca os sapatos. Mesmo eu poderia dizer o quanto esse lugar te traz de conforto. Levanta-se e olha para trás procurando respostas e se vai... E se vai. (Reparo em sua marca e todo meu personagem morre.)
E não te decifro.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nós

Busco o equilíbrio eterno dentro dessa bipolaridade de emoções e sentimentos. Onde um dia amo sentir a doce rouquidão de suas palavras em contrapartida de todas as outras flores, fechadas em nosso caminho. É como se tivéssemos misturado as estações. Vivemos primeiro o verão e a primavera. Agora é apenas inverno. Foi o que me restou e luto para ser o que me basta.

Se os botões não se abrirem, tudo bem. Eu brindarei e dançarei na chuva.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Menino

Olha pra mim. Estou sempre aqui, sorrindo para você. Olha pra mim. E se você olhar agora, não saberá dizer se é minha fotografia. Fala comigo. Nem precisa de muito. Qualquer sorriso seu já é um bom dia. Permita-me. Não conheço teu rosto, mas tem toda minha atenção. Decifra-me. Eu não quero paredes entre nós, estranho.

Se tivesse coragem diria tudo que sinto. Contaria que você é puramente interessante. Que sou capaz de perder a inspiração quando falo de você, tamanho medo da minha própria sinceridade. Você desperta o melhor em mim. Não conheço seu rosto, mas o som da sua voz faz serenata. Ora, como poderia compartilhar tudo que sinto? Desconhecido afeto. Somos píxeis, cores, letras e formas um ao outro. Será que você sente o mesmo? Sabe que eu poderia me apaixonar? E se ja for tarde demais.

E se já for... amor?

domingo, 18 de abril de 2010

Vagalume, vagalume...

Tem seu lugar ao sol que não é amarelo. É verde e marrom, como a flora que colore teu olhar cintilante borboleta. Sussurra desenhos em seu voo, construindo poesia, flutuando entre devaneios dos mesmos novos campos. São as palavras, tuas asas. E como se ontem tivesse morado em um casulo, decidiu-se conhecer o mundo. Você ama e sente medo. Resolveu deitar-se na pedra mais brilhante, ainda que ela estivesse no fundo de um rio. Ao longe, sorri como se compartilhasse segredos. Espelha-se ao outro a ponto de tornar-se sua ternura. Seu carinho. É como se toda a natureza tornasse invisível. E te dói. As asas molhadas já não te deixam voar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Os outros tornaram-se você

Criatura,

a morte da fé transforma um campo florido em caos e cinzas.
Como um ralo, suga. Quer tanto que se perde em frustrações.
E seus sorrisos são como olhares frios, quase é uma desculpa.
Não é a rosa que o espinho fere. São debilitadas tuas emoções.

Tudo fica vulnerável ao seu querer. Criatura, não vê que suas
bases estão enferrujadas? Que suas razões já são tão insanas
e confusas que já não sabe controlar e aceitar as diferenças?
Quanta pena sente de si. E quanta solidão. Me diz, como você
caminha? Ainda tem forças e esperanças? Olha, seu rei morreu.

Aquele que nunca existiu.



Criatura, quem é você?

Para de lembrar do brilho cegador daquelas jóias. Elas jamais
pertenceram-te. Apague as suas lagrimas. Ama-te. Perceba-se.
Tu és uma criatura linda.



Senhora errante,

queime esse diário. Não adianta lamentar seu presente. É
incoerente com a vida. É sim, deixa ser hoje. Deixa partir.
Abra sua mente e seu coração.



Servo,

não se torne escravo de um único sentimento. Que tamanha
prioridade você dá esquecendo-se de tantos outros. Tantos
outros lindos sentimentos.


Ora, canalha,

Não veja o outro com propriedade. Você não tem o dom da
permissão e essa corte só existe em teus pensamentos
masoquistas. Deixem ser.



Quantas amarguras você leva? Quanta inveja sente! Tamanho desespero, tamanha infelicidade. você ri das ações. Mas, está presa a jaula da acomodação. Tua falta de amor é tanta que se delicia deitado na merda. Só porque faz bem a sua própria piedade.




Tá tudo errado.
Tudo tããooo errado.

Você se consome e se carrega. Julga o outro e esquece-se do espelho que está ao lado. Ah...
Você virou o espelho e com uma aquarela desenhou seu auto-retrato distorcido. Engana-se.

Mas, quando suas chagas ardem e você busca a calmaria da água em busca de alivio,
jamais consegue apagar o reflexo ondular de seu próprio olhar. Ele te assombra.


Te vejo com uma infelicidade tão grande que desperta minha compaixão.
responda-se, você ama?
você conhece o amor?

Ah eu mesma respondo,
não.

Sempre soube...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Os dias

Os dias passam e são tão iguais. Distintos do que ontem desejei. E distantes do que sempre sonhei. Meu hoje são dias cheios de compromissos. Minhas vontades foram caladas. Os dias passam, mas os problemas se repetem. Como aquela música em minha playlist. A cada obstáculo uma parte de mim se desfaz. Eu sou migalhas por dentro. Há uma corda para percorrer e não conheço seu fim. Eu o desejo.

Vivo tudo tão medido. Não há tempo para um café, um beijo. Não posso sair tão tarde, nem tão cedo. Esse final de semana está cheio, o outro também. É que eu tenho que, eu tenho que... estar em outro lugar. Obrigada, adoraria em um outro dia. É, deixa para a próxima. Não, não, eu quero ir, mas não posso. Ou talvez consiga, se corresse. Se morresse.

De manhã, não quero acordar. Não quero tomar banho, lavar o rosto, cabelo e corpo. Não quero comer nada, mas sinto fome. Preferia ir a pé do que de carro. Desejaria estar em outro lugar, menos no caminho. Não quero ver ninguém, nem dar bom dia. Espero que o elevador esteja vazio. Quero dormir novamente, o dia não passa. Não quero ir ao curso, mas amo todas aquelas matérias. Detesto chegar tão tarde, me dá até pânico e medo da rua. Não quero ir para casa. Nem dormir. Tenho medo de não escutar você me chamar.


Não quero mais percorrer entre esses fios rígidos e secos. Onde será o fim? Como será? Eu não me importo mais. Não acredito mais no amanhã. A fé, morreu. A inércia sustenta um falso sorriso, moldado pelas regras da sociedade. E se encontro meu amor, minha admiração, minha felicidade... quero partir. Não tenho assunto. Estou oca.

Não quero te fazer infeliz, mas não sei mais sorrir.